A Riqueza das Redes - Parte Um
Por mais de 150 anos, as novas tecnologias de comunicação tendem a concentrar e comercializar a produção e a troca de informação, enquanto aumentam o alcance social e geográfico das redes de distribuição de informação. Prensas mecânicas de alto volume e o telégrafo combinaram-se a novas práticas de negócios para transformar os jornais de esforços locais de pequena circulação a mídia de massa. Jornais se tornaram um meio de comunicação voltado a audiências cada vez maiores e mais dispersas, e para o seu gerenciamento foram necessários investimentos substanciais de capital. Conforme o tamanho da audiência e sua dispersão social e geográfica foram crescendo, o discurso público desenvolveu-se crescentemente num modelo de mão-única. Informação e opinião amplamente conhecidas e que formavam a base das discussões políticas e relações sociais fluíam cada vez mais de produtores profissionais comeriais para consumidores passivos. Foi um modelo facilmente adotado e ampliado peli rádio, pela televisão e mais tarde pelas comunicações via cabo e satélite. Esta tendencia não abrangeu todas as formas de comunicação e cultura. Telefones e interações pessoais, mais importantemente, e distribuições de pequena escala eram obviamente uma alternativa.
imcompleto
A Internet apresenta a possibilidade de uma reversão radical desta tendência. É o primeiro meio de mocmunicação moderno que expande seu alcance descentralizando a estrutura capital de produção e distribuição de informação, cultura e conhecimento. Muito do capital físico que está por trás da maioria da inteligência da rede está amplamente difundido é possuído pelos próprios usuários. Roteadores e servidores da rede não são qualitativamente diferentes dos computadores que os usuários têm em casa, diferentemente de estações de transmissão e sistemas a cabo, que são radicalmente diferentes tanto em termos técnicos quanto econômicos dos televisores que recebem seus sinais gerados. Esta mudança básica nas condições materiais da produção e distribuição de informação e cultura têm efeitos substanciais na forma como nós vimos a conhecer o mundo que ocupamos e os cursos alternativos de ação que abrem-se a nós, como indivíduos e atores sociais. Através destes efeitos, o ambiente em rede emergente estrutura a forma como percebemos e seguimos valores centrais em sociedades liberais modernas.
Uma tecnologia sozinha, entretanto, não determina estrutura social. A introdução da imprensa na China e na Coréia não induziu o tipo de reforma religiosa e política que seguiu a Biblia e críticas impressas na Europa. Mas a tecnologia também não é irrelevante. As teses de Lutero não foram as primeiras pregadas nas portas de uma igreja. A imprensa, entretanto, tornou praticamente viável mais de 300.000 cópias das publicações de Lutero circularem entre 1517 e 1520 de uma forma que as teses anteriores não puderam circular.[1] A leitura vernacular da Bíblia se tornou uma forma viável de pregação religiosa apenas quando a impressão destas Bíblias e sua disponibilização caseira para indivíduos se tornou economicamente viável, e não quando todos os copistas eram ou todos monges ou então dependentes da igreja. A tecnologia cria espaços de viabilidade para a prática social. Algumas coisas se tornam mais fáceis e baratas, outras mais caras e difíceis de se fazer ou de se prevenir sob diferentes condições tecnológicas. A interação entre estes espaços de viabilidade tecno-econômicos e as respostas sociais a estas mudanças - tanto em termos de mudanças institucionais, como leis e regulamentações, quanto em termos de mudanças de práticas sociais - define as qualidades de um período. A forma como a vida é, de fato, vivida pelas pessoas dentro de um dado conjunto integrado de práticas tecnológicas, econômicas, institucionais e sociais é o que torna uma sociedade mais ou menos atrativa, é o que torna suas práticas louváveis ou lamentáveis.
Uma confluência particular de mudanças técnicas e econômicas está alterando a forma como nós produzimos e trocamos informação, conhecimento, e cultura de modo a poder redefinir práticas básicas, primeiro nas economias mais avançadas, e depois ao redor do mundo.
- ↑ incompleto